O silencio do Vento e do Mar

 Elizama Almada (texto e azulejos)

Sob céu sereno,
vento e mar se calam juntos,
eco de um sonho.

No coração da costa, onde a terra encontra a imensidão líquida, o mar respira com uma calma profunda. Suas ondas se movem em um compasso constante, às vezes suaves e melodiosas, outras vezes ferozes e indomáveis, mas sempre fiéis a si mesmas. O mar não para, não se apressa, não se cansa. Em seu perpétuo vaivém, ele nos oferece uma lição que poucos se detêm para ouvir: a vida, como as ondas, nunca deixa de se mover.

O mar não teme as tempestades que o agitam nem se vangloria da tranquilidade de um dia sereno. Para ele, não há diferença entre o caos e a calma, pois sabe que ambos são passageiros. Quando o vento ruge e as ondas se erguem como montanhas, o mar não luta contra seu destino; entrega-se à tempestade com total confiança, sabendo que, no fim, encontrará novamente seu equilíbrio. Nisso reside sua força: não em resistir, mas em aceitar.
Podemos aprender muito com o mar. Sua superfície pode parecer agitada, até furiosa, mas em suas profundezas reina uma serenidade inalterável. Essa dualidade nos ensina que, embora a vida possa parecer caótica na superfície, em nosso interior podemos encontrar um centro de calma, um refúgio do qual podemos observar o mundo sem sermos arrastados por suas turbulências. Quantas vezes, presos no barulho de nossas preocupações, esquecemos que dentro de nós também existe um oceano, vasto e profundo?

O mar também nos fala sobre a importância do desapego. Cada onda que chega à praia traz consigo fragmentos de histórias distantes: conchas, pedaços de madeira, partículas de areia. No entanto, o mar não se apega a nada disso. Cada onda entrega o que traz e, ao recuar, leva algo mais, sempre em movimento, sempre deixando ir. Dessa forma, o mar nos lembra que não podemos nos apegar ao que a vida nos dá nem resistir ao que ela nos tira. Tudo faz parte de um ciclo maior, mais vasto e eterno do que nós mesmos.

As marés, com sua dança rítmica e constante, nos ensinam que até os movimentos mais grandiosos estão regidos por uma força maior. O mar responde à lua, à sua atração silenciosa e poderosa. Da mesma forma, nossas vidas estão conectadas a ritmos que muitas vezes não compreendemos, mas que guiam nosso caminho. Resistir a esses ciclos naturais só nos exaure. Aceitá-los, por outro lado, nos permite fluir com a vida, como o mar flui com as marés.

No mar, tudo se transforma. A espuma das ondas que quebra na praia desaparece em um instante, apenas para reaparecer mais adiante, em outro lugar. Suas águas, evaporadas pelo sol, elevam-se ao céu e retornam como chuva, nutrindo a terra que, por fim, se abrirá para devolver-lhe suas águas. Este ciclo interminável nos fala da natureza mutável da existência. Nada permanece, e ainda assim, tudo retorna de alguma forma. Nesse fluxo constante, há uma lição de humildade: não somos mais que uma pequena onda no vasto oceano do tempo.

O mar, com sua imensidão e mistério, nos convida à contemplação. Sentar-se diante dele, ouvir o quebrar das ondas, observar o horizonte infinito, é um lembrete de como somos pequenos e, ao mesmo tempo, de como estamos conectados a algo muito maior. Em sua presença, as preocupações perdem peso, os medos se dissolvem e a mente encontra um instante de paz.


Mas o mar não apenas nos ensina a sermos flexíveis e humildes; ele também nos mostra a importância da perseverança. Suas ondas batem repetidamente contra as rochas, moldando-as lentamente, com paciência infinita. O que parece sólido e imutável não é páreo para a constância da água. Assim, o mar nos convida a confiar na força dos pequenos atos repetidos, na transformação que ocorre com o tempo.

Em última análise, o mar nos fala do essencial: viver plenamente o momento presente. Cada onda é única, cada reflexo de luz em sua superfície é irrepetível. O mar não guarda rancor pelas tempestades passadas nem se preocupa com as que possam vir. Ele simplesmente é. E, nesse ser, encontra sua infinita sabedoria.

Quando ouvires o sussurro do mar, lembra-te: a vida não se força, ela se vive. O momento não precisa ser perfeito; já é, porque está aqui.